Aquele primeiro fim de semana de abril tinha tudo para ser tranquilo para a família Müller. Talvez um pouco diferente, pois desta vez não teriam a presença de Bernardo, que dormiu "inúmeros" sábados e domingos na casa dos "Mila", em Três Passos, no Noroeste do Rio Grande do Sul. Mas os dias se passaram e, no domingo, 6 de abril, o clínico geral Leandro Boldrini surgiu em frente à residência perguntando pelo paradeiro do garoto. Lucas, filho de Simone, e Edson responderam que ele não estava lá. Começava, então, uma busca desesperada. Mal sabiam os Müller que Leandro seria suspeito de matar o menino.
Antes de ser preso junto com a mulher, aenfermeira Graciele Boldrini, Leandro disse à polícia que Bernardo havia saído na sexta-feira(4) de casa para passar o fim de semana com a família Müller. Depois de 10 dias, o corpo do menino foi encontrado enterrado em um matagal, na segunda-feira (14), no município deFrederico Westphalen. A assistente socialEdelvania Wirganovicz também foi presa por suspeita de participação no crime.
"O pai nunca vinha buscar o filho. Ele vinha sozinho e a gente levava de volta. E naquele dia o Leandro apareceu", recordou a professoraem entrevista ao G1, na sala da casa da família em Três Passos. Ela conta que, ao saber da morte do menino, lembrou-se da visita e passou a suspeitar do médico. "A ficha caiu na hora. Achei tudo muito estranho. É tudo muito triste. Tomara que a polícia consiga provas", afirmou.
Simone era professora de português de Bernardo no Colégio Ipiranga, onde ele cursava o 6º ano doEnsino Fundamental. Visivelmente abalada, lembra que enfrentou momentos difíceis na escola após a morte da mãe biológica do menino, ocorrida em 2010. Segundo a Polícia Civil, ela se suicidou. "A gente enfrentou uma rebeldia muito grande do Bernardo, muito forte. Foi um período bem complicado como professora."
Mãe de Lucas, amigo íntimo de Bernardo, Simone revelou três pedidos que o menino confidenciou ter feito ao pai durante audiência no Fórum de Três Passos em fevereiro. "Ele disse que queria poder brincar com a irmã, queria poder levar lanche para a escola e ter a chave da casa", revela.
Médico foi ‘sacana’, diz marido de Simone
Edson Müller, empresário, estava em viagem. Por telefone, teve tempo para resumir o contato com o pai. Segundo ele, Leandro foi primeiro ao restaurante da família, no Centro da cidade.
Edson Müller, empresário, estava em viagem. Por telefone, teve tempo para resumir o contato com o pai. Segundo ele, Leandro foi primeiro ao restaurante da família, no Centro da cidade.
"Ele chegou lá umas 18h30 perguntando pelo filho dele. Eu respondi que não sabia, que não tinha visto ele. Mais ou menos uma hora depois ele foi lá em casa", diz. "Depois que a gente ficou sabendo de tudo, meu Deus do céu... ele foi um sacana", acrescenta.
Leandro Boldrini prestou depoimento no final da tarde desta quarta-feira (16). Segundo a delegada regional da cidade, Cristiane de Moura e Silva, o local e o conteúdo do depoimento não serão revelados.
No mesmo dia, a polícia informou que será realizada uma perícia em uma amostra de terra do local onde o corpo da criança foi enterrado em Frederico Westphalen. O material será comparado com os resíduos de terra encontrados no carro da madrasta da criança, apreendido pela polícia. Uma pá e uma cavadeira manual encontrados na casa da amiga do casal suspeita de participar do crimetambém serão analisados.
Na casa onde Bernardo morava com o pai, a madrasta e uma criança de um ano, filha do casal, foram encontrados remédios. A polícia acredita que o menino tenha sido morto com uma injeção letal, o que ainda precisa ser confirmado pela perícia.
O corpo de Bernardo foi sepultado na manhã desta quarta (16), por volta das 10h30 no Cemitério Municipal de Santa Maria, na Região Central do estado. Mo mesmo jazigo está sepultada a mãe dele, Odilaine, falecida em fevereiro de 2010 aos 30 anos. Segundo a polícia, a mulher cometeu suicídio com um tiro na cabeça no consultório onde o ex-marido trabalhava à época.
Na terça (15), o corpo de Bernardo foi velado em Três Passos, no ginásio do Colégio Ipiranga, onde ele estudava. Moradores, professores e colegas de escola foram se despedir do garoto. A notícia da morte dele, após 10 dias desaparecido, chocou e causou indignação em Três Passos
Durante o velório em Santa Maria, o advogado da avó do garoto, Jussara Uglione, apresentou o atestado de óbito de Bernardo. O documento diz que a morte ocorreu no dia 4 de abril de “forma violenta” e o corpo foi encontrado "em adiantado estado de putrefação". De acordo com a Polícia Civil, o garoto foi morto com uma injeção letal, o que ainda deverá ser confirmado pela perícia. A investigação também vai apurar se a criança foi dopada antes de morrer.
Caso corre em segredo de Justiça
A investigação corre em segredo de Justiça e poucos detalhes são fornecidos à imprensa. Mas de acordo com a delegada Caroline Virginia Bamberg, responsável pela investigação, a Polícia Civil diz ter certeza do envolvimento do pai, da madrasta e da amiga da mulher no sumiço do menino. "Precisamos identificar o que cada um fez para a condenação", afirmou.
A investigação corre em segredo de Justiça e poucos detalhes são fornecidos à imprensa. Mas de acordo com a delegada Caroline Virginia Bamberg, responsável pela investigação, a Polícia Civil diz ter certeza do envolvimento do pai, da madrasta e da amiga da mulher no sumiço do menino. "Precisamos identificar o que cada um fez para a condenação", afirmou.
De acordo com a família, Bernardo havia sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No domingo (6), o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.
No início da tarde do dia 4 de abril, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen.
"O menino estava no banco de trás do carro e não parecia ameaçado ou assustado. Já a mulher estava calma, muito calma, mesmo depois de ser multada", relatou o sargento Carlos Vanderlei da Veiga, do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM). A madrasta informou que ia a Frederico Westphalen comprar um televisor.
Fonte: GLOBO
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