Encaminhado pelo Sistema de Regulação Municipal (Sisreg), em janeiro, para começar o tratamento na Clínica Osolando Machado, conveniada ao SUS, Yuri liga com frequência para a unidade em busca de uma solução, mas as respostas que recebe só o deixam mais angustiado:
- A máquina está quebrada, e a atendente pede que eu tenha paciência. Diz que infelizmente eu terei que esperar. Em meados de março, me informaram que 88 pessoas aguardavam na minha frente. Sei que não sou só eu nessa situação. Há pessoas com quadros piores. Mas tudo que mais quero é terminar esse tratamento e voltar a viver, retomar a minha vida - diz Yuri, que sonha em entrar na faculdade de jornalismo.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca), a Secretaria municipal de Saúde, responsável pelo Sisreg, e a Osolando Machado não informaram quantos pacientes aguardam hoje para começar aradioterapia. Mas, segundo o Ministério Público Federal, que ajuizou ação em setembro passado para regularizar esse tratamento no Inca, na época, 802 pessoas esperavam por uma chance de lutar contra o câncer no Inca, no Sisreg e no Hospital Mário Kroeff.
- Não é só ele (Yuri) que está sendo prejudicado. Muitos outros pacientes e até a própria Clínica Osolando Machado também estão. A devolução do paciente ao Sisreg para ser redistribuído é a última opção. Estamos remanejando os pacientes para nossa filial. E (esperar) de janeiro a abril, teoricamente, não é um tempo tão longo. Infelizmente, há pacientes que aguardam quase um ano para iniciar o tratamento - diz o advogado da Osolando Machado, Leonardo Pinto.
Um ano para conseguir o diagnóstico
Yuri vive cercado de cuidados. A cada dor no tórax, entra em desespero e controla diariamente na balança qualquer grama de peso perdido. Não é para menos.
Em 2006, então com 16 anos, foi atropelado por um ônibus e passou 41 dias internado, entre a vida e a morte.
- Achei que meu filho ia morrer. Em seguida, o pai do Yuri morreu de enfarte e eu tive câncer de mama diagnosticado. Graças a Deus, estou curada e meu filho também ficará - diz Mônica Guarilha, de 50 anos, mãe de Yuri.
Em 2012, o jovem começou a ter dores no peito, febre e perda de peso. Peregrinou por postos de saúde e recebeu diagnósticos como pneumonia e tuberculose. Até que, em dezembro daquele ano, pesando 64 quilos (ele mede 1,84m), foi encaminhado ao Hospital do Andaraí. Lá, teve o câncer diagnosticado: linfoma de Hodgkin, com focos no pescoço, nas axilas e no mediastino (entre pulmão e coração).
- Em 2013, fiz 12 sessões de quimioterapia. Mas ficou um resquício do câncer no mediastino. O único tratamento possível é a radioterapia, que não tem no Andaraí. Estou nessa luta desde 2012. Não posso esperar mais - diz.
Em outubro, duas ações civis públicas, ajuizadas pela Defensoria Pública da União e pelo Ministério Público Federal, pediam a contratação emergencial de profissionais de radioterapia para o Inca. O Inca afirma que cumpriu a decisão da Justiça que determinou a contratação temporária de pelo menos 30 técnicos de radiologia e que o serviço está funcionando em três turnos, na capacidade plena.
Segundo a Secretaria de Saúde, o Sisreg recebeu pedido de marcação de radioterapia para Yuri no dia 3 de janeiro de 2014, com agendamento para o dia 6 de janeiro na Osolando Machado.
Fonte: GLOBO
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