O chef Joachim Koerper, do restaurante Eleven, disse nesta terça-feira (28) à Folha que recebeu funcionários da Embaixada do Brasil em Lisboa para uma "vistoria" na véspera da visita da presidente Dilma Rousseff e de membros da sua comitiva ao local.
Isso contraria a versão apresentada ontem pelo ministro Luiz Alberto Figueiredo (Relações Exteriores) para a passagem da delegação brasileira pela capital portuguesa, fato que havia sido omitido da agenda presidencial.
Dilma fez uma escala em Portugal quando voltava da viagem à Suíça, onde participou do Fórum Econômico Mundial, em Davos, antes de chegar a Cuba no domingo. Sem compromissos oficiais em Lisboa, Dilma jantou no Eleven, um dos três únicos restaurantes da cidade a ter uma estrela no guia "Michelin", e ficou hospedada no Ritz Four Seasons, um dos mais luxuosos da capital.
"Havia duas possibilidades. Viu-se que havia previsão de mau tempo no nordeste dos Estados Unidos. Então houve uma decisão de que o voo mais seguro seria com escala em Lisboa", declarou o ministro, em Cuba.
Na edição de hoje, o jornal "O Estado de S. Paulo" revelou que o embaixador Almeida Lima, diretor do cerimonial do governo português, estava incumbido desde quinta-feira de preparar a recepção a presidente.
Ela ficou cerca de 15 horas em Portugal. Uma parte da equipe ficou no mesmo hotel que a presidente. Outra, no Tívoli. No Ritz, o valor das diárias vai de € 360 (R$ 1.188) para o quarto comum a € 8.265 (cerca de R$ 27 mil) para a suíte presidencial.
Segundo o chef, jantaram com Dilma mais sete pessoas, por um preço "muito mais baixo que 89 euros". Esse é o preço do melhor menu da carta do Eleven, o "Menu Estrela Michelin". "Foi muito mais barato que um bom restaurante em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Mais barato, certamente que no Figueira Rubaya ou no Fasano", disse.
Questionado sobre se o "Menu Estrela Michelin" não tinha sido servido à presidente Dilma Rousseff, Koerper explicou: "Só servi meia dose de robalo, não havia sequer atum [um prato que consta desse menu], e não comeram sobremesa. Só queijo. Portanto, foi muito mais barato que esse menu". Além disso, esclareceu o chef, "o vinho [da refeição] foi oferecido porque se vem cá um chefe de Estado temos que oferecer algo, não? Vinho e um vinho do Porto é o mínimo.".
Joachim Koerper contou também que, na mesa de Dilma Rousseff, a conta foi dividida por oito e que "cada um pagou individualmente. Alguns em dinheiro e outros em cartão de crédito".
O restaurante Eleven, situado numa área privilegiada da capital portuguesa tem uma vista para o rio Tejo e é considerado um dos melhores de Lisboa. Apesar de Dilma Rousseff estar no local, o restaurante não foi fechado. "Dilma jantou na sala de cima num ambiente muito descontraído. Alguns clientes se aperceberam de que ela estava cá, mas não aconteceu nada de especial."
Satisfeito por ter recebido a visita presidencial, Joachim Koerper disse ainda que a presidente elogiou o jantar e que "ia visitar" o seu restaurante no Rio de Janeiro [o Enotria]. Além do Eleven, Koerper é o responsável pelas cozinhas de dois restaurantes no Rio de Janeiro, o Enotria, na Barra da Tijuca, e Enoteca Uno, no centro.
Orgulha-se de dizer que é o único agraciado pelo Michelin em atividade no Brasil. Apesar disso, não é tão conhecido no Rio quanto outros chefs estrangeiros, como Claude Troisgros ou Roland Villard, por exemplo.
Koerper, casado com uma paraense, costuma usar ingredientes brasileiros em suas receitas. Cupuaçu, castanha do Pará, açaí, cumaru e feijão manteiguinha de Santarém são exemplos de produtos nacionais que fazem parte de suas receitas.
O casal passa 45 dias em Lisboa e outros 45 no Rio. Embarcaram para Lisboa no início do ano e são esperados de volta no Rio na segunda quinzena de fevereiro. Nenhum membro da comitiva brasileira em Cuba comentou as declarações de Koerper.
REPERCUSSÃO
No domingo (26), a Presidência da República divulgou nota em que afirma que a parada técnica da presidente Dilma em Lisboa foi "adequada" porque o Airbus presidencial não tem autonomia para voar de Zurique (Suiça) a Cuba.
Na segunda-feira (27), a oposição pediu a abertura de um inquérito civil público na Procuradoria-Geral da República para investigar a escala da presidente em Portugal, no sábado.
Na representação, o PPS solicitou que o Ministério Público Federal avalie se houve improbidade administrativa diante dos gastos da comitiva presidencial durante a parada que não estava prevista na agenda oficial divulgada pela Presidência.
Provável candidato do PSDB à Presidência da República neste ano, o senador Aécio Neves (MG) disse na segunda-feira (27) que a viagem da presidente foi feita "de forma dissimulada", porque, segundo ele, "tinha uma agenda que não era pública".
"A viagem teve excessos absolutamente inexplicáveis. Não é um bom exemplo, não é um comportamento que se pode esperar", disse o tucano, que passou o dia com correligionários em Florianópolis.
Fonte: Folha
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