Mostrando postagens com marcador retomar o crescimento e enfrentar os escândalos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador retomar o crescimento e enfrentar os escândalos. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Desafios de Dilma ainda são os mesmos: domar o Congresso, retomar o crescimento e enfrentar os escândalos

Ichiro Guerra/Divulgação
Brasília – A presidente Dilma Vana Rousseff (PT), 66 anos, que se reelegeu após travar a disputa eleitoral mais acirrada desde a redemocratização, recebe, hoje à tarde, das próprias mãos, um país ainda dividido pelo conturbado processo eleitoral e com desafios redobrados pela frente. O governo é novo, mas os problemas são antigos. Ao receber a faixa presidencial pela segunda vez, a petista montou um ministério questionável do ponto de vista ético para enfrentar a guerra política que se anuncia em razão dos desdobramentos da Operação Lava-Jato. Na segunda gestão, a presidente se veste de pragmatismo político na tentativa de superar obstáculos proporcionais aos 54 milhões de votos recebidos. 

A tarefa de casa é gigantesca. Reconquistar o empresariado, recolocar o Brasil no trilho do crescimento, ouvir os movimentos sociais, conter o fantasma da inflação e domar o Congresso para evitar derrotas em temas essenciais, a exemplo da reforma política. Mais do que contar com os aliados escolhidos a dedo na balança do fisiologismo, a presidente sabe que, com base na postura centralizadora do primeiro período de governo, terá que mudar o estilo pessoal de governar para vencer as batalhas que a aguardam.

A própria petista sinalizou o que observa como desafios do segundo mandato ao escalar os novos ministros. A montagem da equipe começou pela área econômica. O gesto presidencial indica que a leitura econômica dos próximos quatro anos será feita com os olhos do mercado financeiro. Na primeira gestão, os banqueiros não gostaram das sucessivas baixas de juros realizadas entre 2010 e 2014. Durante a campanha, com as críticas de Dilma ao setor, a relação piorou de vez. Agora, é hora de retomar o diálogo. Na outra ponta, os movimentos sociais, sobretudo os que lutam pela terra, devem pressionar a petista para destravar a reforma agrária.

Em meio ao escândalo da Operação Lava-Jato, que investiga o pagamento de propina por grandes empreiteiras a políticos e a apartidos em troca de contratos com a Petrobras, o sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz que o principal desafio de Dilma será a “questão ética”. “A presidente tem de tomar uma série de atitudes concretas, como a regulamentação da Lei Anticorrupção. É o que espera a população. Ela tem que caminhar no sentido de uma transparência efetiva na gestão, sem escamotear a questão ética, que hoje é a principal carência do governo”, afirma Baía.

ARTICULAÇÃO POLÍTICA O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro cita a área econômica entre os principais obstáculos. “Ao correr para anunciar a equipe econômica, como fez, ela já está tentando enfrentar esse desafio”, diz. Para o professor, a composição dos ministérios mostra ainda que Dilma está bastante preocupada com a articulação política no Congresso. “E vai ser difícil lidar com o parlamento. Ao acomodar aliados, ela tenta fortalecer sua base de apoio”, afirma. O professor ressalta também, entre os desafios presidenciais, a interlocução com os movimentos sociais. “Ela tem dificuldade de conversar com os novos movimentos e, para isso, precisa de mais de um interlocutor.”

Dilma ainda precisará reinventar a relação com o PT, essencial para a sua vitória, e com o próprio ex-presidente Lula. Padrinho e afilhada, criador e criatura que se aproximaram, se complementaram e se estranharam ao longo do primeiro mandato, ambos conseguiram administrar as pressões da legenda pelo ‘volta, Lula’. Mas, agora, é diferente. O ex-presidente é candidatíssimo ao Planalto em 2018 e seu sucesso nas urnas depende de um bom segundo governo Dilma.

O resumo é que a presidente deve ser pressionada ainda mais pela maior estrela petista, que já demonstrou insatisfação com as escolhas dos novos ministros. Dilma já afirmou, em entrevista à imprensa, que apoiará Lula “no que ele quiser ser”. O presidente do PT, Rui Falcão, reforçou que o ex-presidente terá um protagonismo maior no próximo período, o que, em tese, diminui a margem de autonomia da petista para governar o país.

Dilma tem também pela frente uma “pedra” chamada Eduardo Cunha. Domá-lo é essencial para aprovar temas vitais para o governo. Na primeira gestão, principalmente em 2013, o então líder do PMDB comandou várias rebeliões na Casa e armou sucessivas pautas-bombas contra os interesses da gestão.

Os 10 obstáculos

Principais problemas que Dilma terá que enfrentar no mandato que se inicia hoje


Lava-Jato
» Administrar os desdobramentos da operação que vai atingir em cheio dezenas de políticos da base de sustentação do governo. Em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve começar a autorizar a abertura de inquérito contra deputados, senadores, ministros e ex-ministros

Eduardo Cunha
» Domar o deputado do PMDB do Rio de Janeiro, provável presidente da Câmara, para evitar derrotas governistas no Congresso em temas essenciais. Na primeira gestão, o então líder peemedebista comandou várias rebeliões na Casa e armou sucessivas pautas-bombas contra os interesses da governo

PIB
» Reconquistar a confiança do empresariado para aumentar a capacidade de investimento no país e, dessa maneira, espantar o “pibinho”. O objetivo é recolocar o Brasil no trilho do crescimento. A balança comercial negativa e o déficit nas contas públicas são alguns dos indicativos de que o Brasil vai mal nessa área, travando o desenvolvimento.

Inflação
» Conter o fantasma da inflação que amedronta os cidadãos brasileiros e buscar saídas para que as famílias, 46% delas endividadas, consigam retomar o poder de compra

Movimentos sociais
» Atender a demandas específicas dos mais diversos segmentos de movimentos sociais. A exemplo dos sindicatos, eles sentiram-se escanteados do poder nos primeiros quatro anos. Há reclamações especialmente na questão agrária

Olimpíadas de 2016
» Repetir o sucesso de organização da Copa do Mundo e conseguir dobrar atletas brasileiros que já demonstram insatisfação com a escolha de George Hilton para comandar o Ministério do Esporte 

Setor financeiro
» Os banqueiros não gostaram das sucessivas baixas de juros realizadas entre 2010 e 2014. O clima entre a petista e o setor financeiro azedou de vez com as críticas de Dilma aos banqueiros durante a campanha. Retomar o diálogo é uma das prioridades do novo governo

Lula
» Apesar do movimento “volta, Lula”, o ex-presidente defendeu o direito de Dilma disputar a reeleição. Mas agora já fala em concorrer em 2018, e não quer entrar em campo com o atual governo mal avaliado. Por isso, deve aumentar a pressão sobre Dilma até o próximo pleito

PT
» Domar as várias tendências do Partido dos Trabalhadores. Egressa do PDT, a presidente precisou da legenda e da militância na reta final para se reeleger. A sigla deve cobrar essa fatura à altura

Servidores públicos
» Afagar o funcionalismo público. O desafio é complexo. Com a economia fragilizada, os servidores sabem que dificilmente conseguirão aumento nos salários pelos próximos quatro anos, apesar do recente reajuste de 15,8%