Depois de colocar dois adolescentes que supostamente tinham praticado um roubo dentro da viatura 52-1651, um cabo da Polícia Militar ri e gesticula em direção à Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente (DPCA), no Centro, para onde os menores deveriam ter sido levados. As imagens das câmeras e do GPS instalados no veículo mostram ainda que o motorista e outro PM, no entanto, levaram os garotos para o Morro do Sumaré. Nesta quarta-feira, os militares tiveram a prisão temporária decretada pela execução de uma das vítimas e pela tentativa de homicídio da outra.
De acordo com o delegado Rivaldo Barbosa, titular da Divisão de Homicídios, a perseguição a dupla teve início por volta de 9h30 do último dia 11, na esquina das avenina Avenida Marechal Floriano. Os cabos Vinícius Lima Vieira e Fábio Magalhães Ferreira, do 5º BPM (Praça da Harmonia), teriam visto um dos rapazes passando correndo atrás de um ônibus. Um dos PMs desceu do carro e, cinco minutos depois, um dos jovens foi capturado, a 50 metros da DPCA. Onze minutos em seguida, é a vez do segundo adolescente ser colocado na mala da viatura, perto da Candelária.
Já no Sumaré, os menores foram colocados deitados no chão. Em depoimento a DH, o sobrevivente, de 15 anos, contou que um dos cabos disse: “Você não vai mais andar” e disparado contra seu joelho. Ele foi baleado ainda nas costas e, fingindo-se de morto, conseguiu escapar. Já Mateus Alves dos Santos, de 14, levou tiros na cabeça, peito e perna e morreu. No último sábado, a família do menino morto foi levado pelo sobrevivente ao local onde estava o corpo.
— Foi uma cena horrível, meu filho estava caído, de bruços, em estado de decomposição. Nada justifica o que aconteceu com ele. Mesmo se estivesse roubando, não poderia fazer o que fizeram. Quero justiça para o caso — emocionou-se o pedreiro Thiago Virgínio dos Santos, pai de Matheus.
Ainda segundo o delegado, será feito um confronto balístico entre a cápsula de fuzil calibre 762 e um fuzil do mesmo tipo que estava com os PMs. Foram apreendidos também com eles outro fuzil, de calibre 556, e duas pistolas.
— Já há indícios suficientes da autoria e prova da existência de crime — garantiu.
O advogado dos militares, Marcelo Bruner, irá pedir o relaxamento das prisões:
— As provas contra os meus clientes são frágeis. Eles têm 11 anos na corporação e comportamento exemplar.
Reconhecimento
Na DH, o sobrevivente reconheceu os PMs por fotos.
Choro
O adolescente contou que ele e o amigo choraram ao passar pelo Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, indo em direção ao Sumaré.
Grito
Ele disse ter ouvido quando Matheus gritou ao ser retirado do veículo: “O que vocês vão fazer comigo?” Depois, o sobrevivente diz ter ouvido uma rajada de tiros.
Escola
Segundo a família, que mora no Complexo da Maré, o menino estava no 9º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Clotilde Guimarães, em Ramos.
Roubo
Apesar de a perseguição ter começado supostamente depois de um roubo, nada foi encontrado com os meninos.
Depoimentos
Em depoimento, um dos militares admitiu que levou os garotos para o Sumaré para dar um "esporro" e que depois ele foram liberados. Já o outro cabo contou apenas ter pego os adolescentes, mas disse que só dará detalhes do caso em juízo.
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Fonte:GLOBO
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